segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Escurinho faz hino para o Inter

Ídolo da década de 70 homenageia o seu time do coração

Luiz Carlos Machado, o Escurinho, ficou conhecido por ganhar jogos para o Inter na década de 70 com gols de cabeça nos últimos minutos. Para comemorar os cem anos do seu time do coração, a completar em 2009, o ex-atacante participou da promoção organizada pelo clube e compôs o seu Hino do Centenário. Segundo o ex-jogador, este era um sonho de criança:

— Desde os nove anos eu queria escrever uma música para o Inter, mas nunca consegui, nem quando joguei lá. Até que, um dia, dormindo, sonhei com a letra. A música começou e terminou em um sonho.

— Eu sempre fui primeiro torcedor, depois atleta. Mesmo jogando fora, eu nunca saí do Inter. Entro em campo junto com eles, meus rituais antes de cada jogo são os mesmos até hoje — conta o ídolo.

Confira a letra:

Colorado
Inter!
Sou colorado, do presente do passado
Cem anos de tradição
Internacional, lembranças de Yokohama, no Japão
Meu sangue é vermelho
O branco é da paz
Que mora no meu coração
Inter, Inter, Inter
Tu moras no meu peito
Meu eterno campeão

Fonte: Zero Hora
POR ONDE ANDA ESCURINHO?
Escurinho. Apelido que pode levar à imagem de um moleque, um negrinho franzino, de baixa estatura, frágil. Mas Luis Carlos Machado, o Escurinho em questão, nunca foi nada disso. Muito pelo contrário. Mostrou-se sempre um homem imponente, que soube usar de forma exemplar o seu 1,84m para voar por cima dos zagueiros adversários e entrar para a história do Internacional como o seu maior cabeceador. Com a camisa colorada foi bicampeão brasileiro e ganhou sete títulos estaduais consecutivos. Um herói do povo vermelho.Vinte anos depois de largar o futebol, Escurinho nem brinca mais de jogar bola, apesar de manter contato constante com o universo do futebol. Hoje ensina a meninos pobres a importância do esporte, vez em quando assume como treinador de um time de veteranos, mete a cara como Relações Públicas de uma empresa que presta assessoria e consultoria em segurança e Medicina do Trabalho e, o que lhe dá um prazer especial, prepara o primeiro CD. Letras e músicas próprias.Na metade dos anos 70, quando estava no auge de sua forma física e técnica, já flertava com a música. Em meio a treinos, jogos, cabeceadas certeiras, títulos e viagens constantes, arrumou tempo para gravar um vinil, compacto duplo, cujos 5.000 exemplares se esgotaram rápido. Na seqüência do tempo, compôs com personagens importantes do samba e da MPB nacional, como Wilson Ney e Bedeu.Mas só agora está com o tempo necessário para entrar de cabeça no meio musical. "Mas quero dar a cabeceada certeira, sem erro, para fazer gol", comentou ele, misturando a linguagem da bola ao sonho de se destacar também como músico. Detalhista, acrescenta que está se exigindo tanto que antes de entrar no estúdio para gravar "estou fazendo um curso de técnica vocal, numa escola próxima ao Instituto de Belas Artes".Mas não está parado e aos poucos vai testando a voz rouca e sempre serena. Enquanto prepara o seu CD, gravou um "demo" junto com o ex-zagueiro gremista Ancheta, esse já um cantor experiente, com dois discos gravados - com boleros -. Volta e meia os ex-adversários fazem algumas apresentações.Ancheta sofreu com ele nos 70Escurinho, hoje parceiro de Ancheta, considera tanto o uruguaio, que em meio à entrevista para o Pelé.Net, chegou a soltar uma frase curiosa: "É uma pessoa fantástica, e chego a ficar com remorso do que fizemos com ele naqueles anos 70".Atílio Genaro Ancheta foi muito azarado. Chegou a Porto Alegre, vindo do Nacional, de Montevidéu, na hora errada. O Inter havia montado o melhor time de sua história, indiscutível bicampeão brasileiro em 1975 e 76, além de octacampeão gaúcho de 1969 a 1976, e o uruguaio sofreu derrotas em cima de derrotas. Com freqüência, elas ocorreram através das cabeceadas de Escurinho. "Eu era obrigado a fazer os meus golzinhos pelo alto, porque do contrário não arrumava lugar nem no banco de reservas", lembra o ex-jogador do Colorado, pois o grupo era forte demais. Falcão, Batista, Jair, Caçapava e Paulo César Carpeggiani eram os meio-campistas com os quais revezava.Escurinho ficou no Internacional até 1977, quando começou uma peregrinação impressionante. Jogou no Palmeiras em 1978, e foi vice-campeão brasileiro. "Perdemos para o Guarani, que tinha uma grande equipe", lamenta até hoje. Passou pela Inter de Limeira, Coritiba, foi campeão equatoriano pelo Barcelona de Guayaquil, e na volta ao Brasil ainda defendeu o Vitória, o Bragantino, o Caxias, encarando ainda uma temporada no La Serena, do Chile, até decidir largar a bola defendendo o Avenida de Santa Cruz, no interior gaúcho.Poderia ter sido uma carreira melhor, mais marcante? Talvez. Mas Escurinho lembra o começo de tudo e afirma, sem deixar dúvidas, de que repetiria a caminhada, "tudo igualzinho".Menino trabalhador e sonhadorO maior cabeceador do Inter, terror dos gremistas, sempre soube usar bem a caixa que envolve sua massa encefálica. Quando menino, filho de um esforçado estivador, seguiu o exemplo e começou a se virar cedo. "Eu poderia ter me tornado um jovem a serviço de um PCC da vida - como sabe ter acontecido com tanta gente que conheceu - , mas vendi laranjas, engraxei sapatos, e fui um vencedor no futebol. Faria tudo de novo".Mais do que lembrar sua experiência, hoje ele se esforça num projeto social que orienta meninos de rua não apenas para que aprendam a jogar futebol, como também a se integrarem à sociedade, se afastando da marginalidade. São vários ex-atletas que estão envolvidos na Cooperativa de Trabalho dos Esportistas Práticos do Brasil.Escurinho se dedica à gurizada da periferia de Guaíba, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, onde hoje ele mora. "No total, são 1.800 crianças que orientamos, nos diversos núcleos do projeto", explica, satisfeito com o trabalho desenvolvido, mas ao mesmo tempo lamentando o que o progresso está fazendo especialmente nas grandes cidades, atrapalhando a iniciativa."A especulação imobiliária acabou com os campinhos e daqui para a frente serão cada vez mais edifícios tirando o espaço de um esporte que é o mais barato de todos e ao mesmo tempo o que agrega o maior número de pessoas", resmungou o eterno ídolo.Sempre polivalente, também atua como RPEm meio aos preparativos para lançar seu CD, da lição de vida que passa para aos meninos pobres, do envolvimento com outros ex-jogadores atuando como treinador do grupo, Escurinho também é sócio da Ergo Human, uma empresa que presta assessoria e consultoria em segurança e medicina do trabalho.
Não entendo muito do trabalho que é desenvolvido, apenas meto a cara, sou um testa de ferro", revela, diante do rosto sorridente de seu amigo e sócio, o médico panamenho Salvador Camargo Beltran. Ambos se conhecem há três décadas e a firma, com a participação de Escurinho nesses últimos anos, vai bem, espalhando algumas filiais por cidades próximas. "Ele é que trabalha, administra tudo, inclusive a parte financeira, e espero que tudo esteja certinho", acrescenta Escurinho, e ambos sorriem novamente, mostrando afinidade.A residência do ex-jogador fica ali perto da empresa, no condomínio Jardim dos Lagos, onde mora com a terceira companheira de sua vida de emoções sempre intensas. "O nome dela é Ângela Maria, mas não canta nada", brinca mais uma vez o homem que, aos 56 anos, se prepara para lançar o CD que o sócio, Salvador, resume será recheado com muito "samba-canção num estilo Bossa Nova".Não com Ângela Maria, mas com as mulheres anteriores, teve cinco filhos, três homens e duas mulheres. Os homens todos se envolveram com o futebol. Cassius, 29 anos, que cuida de uma filial da Ergo Human, incentivado pelo árbitro FIFA Carlos Simon, está fazendo curso de arbitragem e depois de ter abandonado a bola faz a opção pelo apito.Já D'Marcelus, 26, que começou carreira no ataque - atuando nas categorias de base de Grêmio e Inter -, com o passar do tempo recuou para a meia, e hoje é um zagueiro de boa habilidade e passe eficiente. O empresário Jorge Machado, que levou o atacante colorado Rafael Sobis para a Europa, deve colocá-lo num clube colombiano ainda nesta temporada.Escurinho, cabeça boa, torce por isso e acredita que tudo vai dar certo.

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